27 fevereiro, 2006

Momento

Feliz.

É engraçado como o som no talo, uma música boa - nada de lambadas carnavalescas - te coloca pra cima. [E o contrário também acontece. Nada é perfeito.]

Pulos, pulos, pulos. E sorriso. Do rosto e da alma.

26 fevereiro, 2006

Sobre pular o carnaval

Vamos pular o carnaval? Tudo bem. Eu pulo então. Pulo pra quinta feira, que é melhor, que já é finito, c'est fini, o fim, the end. Carnaval nunca me agradou muito mesmo.



"São as águas de março fechando o verão,
é promessa de vida no meu coração"
(Elis Regina e Tom Jobim)


Trocar o certo pelo incerto. E depois de só, trocar o com-certeza-incerto por outro incerto. Isso é certo?

Paciência. Agora só o tempo vai dizer.

Mas alguém pode me explicar que falta é essa que eu sinto? É a necessidade de sentimento, mas a incapacidade de sentí-lo. É como querer um pote de sorvete e não conseguir tomar sorvete por causa da garganta machucada. É como querer andar, mas estar com as duas pernas quebradas. Como querer voar sem possuir asas.

Que saco isso!

Como alguém - que eu considero bastante inteligente - definiu meu blog: claramente complexa [e não é apenas por hoje]





"Sobre os olhos negros, Baianinha, não deu. Já me perdi, mas não foi recíproco.
E parte de mim ficou lá, perdida neles. Tentando se/me achar, e não consegue.
E está lá, neles, e ele nem sequer se deu conta. Fazer o quê...
C'est la vie, camilinha, c'est la vie..."
[comment meu, no blog de uma amiga]

19 fevereiro, 2006

Black Eyed Angel

Negros. Tão negros que me dão vontade de adentra-los, pra ver aonde se esconde a luz que lhes dá todo esse brilho.

Tão negros que parecem esconder todo tipo de sentimento, ação e pensamento, te tornando tão misterioso quanto um escorpiano.

Tão negros e ao mesmo tempo tão claros, tão plácidos, tão meigos, ‘so sweet’, ‘so tender’...

Como o escuro de um céu, sem luar, sem estrelas. Mas que mesmo assim, despidos de qualquer coisa que os ilumine, têm seu brilho, têm seu calor, e guardam em si todas as cores.

Tão negros que a vontade é a de te olhar, e olhar, e olhar, até conseguir ver a mim neles. Clara, iluminando aquela escuridão brilhante, ofuscante, inebriante. Até me encontrar, pra então poder me perder, novamente, em você.

São assim seus olhos. Agora me olhe. E me veja.

***

Quisera eu poder fazer algo para ajudar, para fazer estancar o sangue. Mas sei que por você não posso fazer nada. Nem por você, nem mesmo por mim. Quisera... pretérito mais que perfeito. Agora perfeitíssimo.

18-19/02/2006 - 00:00

15 fevereiro, 2006

Ressaca

"Você desculpe, eu não quero mais uísque por causa da minha voracidade,
tenho é que beber cerveja porque ela locupleta os grandes vazios da alma.
Ou pelo menos impede a embriaguez súbita.
Gosto de beber de vez em quando.
Gosto de tomar uma cerveja mas
de estar bêbado não gosto."
(Tom Jobim, em conversa-entrevista com Clarice Lispector)


Grande Tom! É isso aí, tenho que aprender com ele.

"Eu me proíbo, eu me proíbo, eu me proíbo!!! [ o problema é que às vezes eu sou tão teimosa!!! ]

14 fevereiro, 2006

Sazonalidades

A Primavera quer entrar, menina... abre essa janela, ela quer entrar... pára de deixar a janela fechada, e pára de arrancar todas as folhas de todas as árvores, fingindo que é o Outono que está aí... Anda, menina, deixa de lado essa bobeira, deixa de se enganar...

Abre a janela, abre... o calor do verão vai te matar, menina, e você aí, se fazendo de forte? Qual é, menina, boba, boba, boba!!! Anda, vai lá fora, tomar um ar, tomar um sol, sentir a luz, a brisa. Não adianta se derreter sozinha, menina. E não adianta se enfiar na geladeira, pra fingir que é inverno. Vai logo, sai daí.

No Outono você vai tentar colar todas as folhas em todas as árvores? Deixa disso menina... tá trocando tudo, tá tudo ao avesso. E para quê? E por quê?

Junta seus trapos antes do inverno chegar, não fica esperando alguém pra te aquecer. Anda menina! Pega os casacos, pega as meias, cobertores, a pipoca, o controle da TV e o chocolate quente, que ninguém vai levantar pra te trazer tudo isso numa noite de frio.

Anda menina, vai viver cada estação em seu ciclo, completo e fundamental. É essencial, assim como – é clichê, menina, mas acredita - a luta da borboleta pra sair do casulo, que dá a força pra ela conseguir voar carregando seu próprio corpo. Vai menina...

- Tá bom, ta bom!!!

(E a menina vira pra um lado e dorme, repetindo mentalmente: “boba, boba, boba!!!”)



[Sobre ontem: cadeiras, mesas, garçons, pessoas, música, risadas... Ressaca, saca? E uma grande alegria de ter encontrado um lugar bacana em plena segunda feira]

10 fevereiro, 2006

Presente ambíguo

Eu não estava distraída. E ainda não estou. Quis ter o que eu já tinha, mas que não tinha me dado conta.

E eu sei que no final das contas a culpa será toda minha. De mais ninguém, só minha. E saber, já de antemão, que terei de carregar esse fardo, dói, dói, dói... Não por ter que carregar o fardo. Mas por não poder carregá-lo sozinha. Por ter que dividí-lo. Por poder tê-lo evitado.

E apesar da aparente calma, a aparente alegria, a aparente tranqüilidade, apesar dos sorrisos amarelos... tudo aqui dentro é demais: pensamentos em demasia, emoções em excesso, todos desgovernados e ingovernáveis; mas por dentro sangra. Uma hemorragia interna, que ninguém - nem mesmo o melhor especialista - pode curar. Porque não é físico. É interior, transcedental. É só meu, meu eu-meu, comigo. É humano. E dói. E não há transfusão, não há nada que cure. O tempo talvez, mas o tempo ainda assim é pouco. E por mais que cure, deixa a cicatriz que, mais que lembrar a ferida, remete à lembranças da sua razão, da sua criação.

"A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou."

E - burra - ainda espero, e ainda fico em casa. E nada. Porque mais uma vez não estou distraída. E toda essa afobação, só pra contradizer meu capricornianismo. Estou saindo da panela pra cair no fogo. Me queimar é inevitável - só posso escolher se será ou não fatal.

"Quem procura não acha.
É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada.
Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."

[É trágico - para não dizer cômico - ver que o caminho que se segue é errado. É mais trágico ainda enxergar isso e ainda assim, continuar a segui-lo. Porque cada escolha significa uma renúncia. Sim ou não, certo ou errado, direita ou esquerda. É ignorância, teimosia. É meu eu mais profundo, teimando em errar, teimando em pedir pra se arrepender e sofrer no futuro. Quando é que vou aprender a me obedecer?]

04 fevereiro, 2006

Quanto tempo mais...

Há uns três dias um passarinho - pardal, desses bem comuns - entrou aqui em casa, certamente pela janela da cozinha que estava aberta. Da cozinha foi para a copa, da copa para a sala de estar. Na sala, ele tentava sair, sempre batendo de frente com a porta de vidro. Batia, dava meia-volta, e ia com tudo de novo, tentando sair. E por mais que fosse doloroso, ele continuava tentando, e tentando, e tentando. Sofria, mas queria se ver livre. Me aproximei então e abri a porta. Ele esperou que eu me afastasse e então conseguiu sair. Paz.

Posso ser olhada como egoísta, má pessoa. Mas acho terrível ver quem eu amo sofrer. E nessas horas gostaria de poder abrir algumas portas.


"Alguma coisa em sua almazinha era bastante velha e bastante feminina
para sentir a alegria irresistível e pungente de ser necessária"
(Pássaros Feridos - Colleen McCullough