26 março, 2006

Pairando no ar

Tão tranquila, tão serena. Leve, light, plena.

Como se todo o meu corpo estivesse dormente, como se eu visse tudo acontecer à minha volta em câmera lenta, como se algo, surpreendente e misteriosamente tivesse clareado - na medida exata (porque a cegueira é causada tanto pelo excesso de luz quanto pela sua falta) - o caminho que eu percorro - mesmo ainda não sabendo que caminho é esse.

E esse leve torpor, inconsciente, inconsistente, mesmo que seja passageiro, me acalma. Porque olho tudo à minha volta com mais calma, sem pressa, sem ansiedade. Com a tranqüilidade e a serenidade de alguém de 90 anos, mas com o vigor e o pique de alguém de 20.

Porque há muito a ser feito, a ser descoberto. Muito a melhorar, a ajudar. Mas, pelo menos por hoje, por agora, não tenho pressa, nem preocupação. Nem mesmo pra saber até quando essa leveza vai ficar, nem pra saber quando o peso vai me puxar.

Porque agora eu estou assim, leve leve leve. Deixando que algo me leve. Uma pluminha, ao sabor do vento, da ocasião, dos acontecimentos. Então agora, neste exato momento, só desejo: que me leve, que me leve, que me leve... aonde quer que seja, pra onde for, que me leve. Entorpecida, leve, plena. Pluma.


[sorriso] [;)]


Lendo: Chega de saudade - A história e as histórias da Bossa Nova, de Ruy Castro

19 março, 2006

'Before her periods' ou 'Tô P*** Mesmo!'

A menina chorava. Sem saber o porquê, sem entender o porquê, mas chorava. De repente, ela parou pra pensar nisso. E dentro desse choro, fátuo e juvenil, começou a rir. E ria, e chorava, ria e chorava.

- Porque - diz ela - assim como existe uma tênue, fina, sutil linha que separa o amor do ódio, existe uma linha, ainda mais tênue, sensível e discreta que separa as harmonias dos hormônios.

E agora ela escreve e sorri, ri e gargalha. Palhaça.

[eles ainda me matam]

18 março, 2006

Colombina Platônica

Vem sentir. Comigo, nós dois. Vem comigo, vamos deixar o verão pra mais tarde.

Deixa a roda rodar, vem que eu já estou distraída, vem vem, anda logo, anda! Vem comigo que no caminho eu te explico.

Ai, não fala isso, por favor... saber que não vamos passar... Não, não solta da minha mão, não solta da minha mão, não...

Porque há tantos carnavais eu tomei o lugar do Pierrot. Quando é que serei o Arlequim?

Desaguou no lugar errado, desandou, não velejou.


"E é sua sina chorar a ilusão, em vão, em vão..."
(Pierrot - Marcelo Camelo)


(Dói quando a probabilidade é zero.)

10 março, 2006

Sitting, waiting, wishing...

Oi meu bem. Azul. Sim, nós fomos azul. Eu e você, azul, da cor do céu, da cor do mar - platonica e clichezérrimamente falando.

Fomos um só, antes dois, quase nulos, agora quase tudo, infinitos, inalcançáveis, inatingíveis.

Você deixou de ser a boneca na vitrine, deixou de ser a estrela no céu, deixou de ser uma utopia. Passou a ser alguém como eu, perto, palpável, real, tocável. E eu te toquei.

Toquei como se toca um violão, uma flauta transversa, um piano. Toquei tentando extrair o melhor, o mais doce, o mais belo som, a mais linda melodia.

E olhei, não mais como aquela criança do outro lado do vidro, mas como aquela que rasga o embrulho e não larga o que encontrou lá dentro nem mesmo na hora de se deitar.

E então eu fiz de tudo para não fechar os olhos, para não dormir, com medo de acordar de um sonho bom. Me agarrei a ti e nem por um segundo deixamos de ser um só. Azul, meu bem, azul.

E aí amanheceu. E a luz do sol tocou levemente os meus olhos, o meu corpo. E então acordei, pensando em como seria bom ter sido azul. Verde.

E lá estava a boneca, novamente na vitrine.

*

Aquele que deseja continuamente ‘elevar-se’ deve esperar um dia pela vertigem. O que é a vertigem? O medo de cair? A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual logo nos defendemos, aterrorizados.
(A insustentável leveza do ser - Milan Kundera)

Lendo: Risíveis amores - Milan Kundera

07 março, 2006

Agora

...tô feliz.

Simples assim!