10 março, 2006

Sitting, waiting, wishing...

Oi meu bem. Azul. Sim, nós fomos azul. Eu e você, azul, da cor do céu, da cor do mar - platonica e clichezérrimamente falando.

Fomos um só, antes dois, quase nulos, agora quase tudo, infinitos, inalcançáveis, inatingíveis.

Você deixou de ser a boneca na vitrine, deixou de ser a estrela no céu, deixou de ser uma utopia. Passou a ser alguém como eu, perto, palpável, real, tocável. E eu te toquei.

Toquei como se toca um violão, uma flauta transversa, um piano. Toquei tentando extrair o melhor, o mais doce, o mais belo som, a mais linda melodia.

E olhei, não mais como aquela criança do outro lado do vidro, mas como aquela que rasga o embrulho e não larga o que encontrou lá dentro nem mesmo na hora de se deitar.

E então eu fiz de tudo para não fechar os olhos, para não dormir, com medo de acordar de um sonho bom. Me agarrei a ti e nem por um segundo deixamos de ser um só. Azul, meu bem, azul.

E aí amanheceu. E a luz do sol tocou levemente os meus olhos, o meu corpo. E então acordei, pensando em como seria bom ter sido azul. Verde.

E lá estava a boneca, novamente na vitrine.

*

Aquele que deseja continuamente ‘elevar-se’ deve esperar um dia pela vertigem. O que é a vertigem? O medo de cair? A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual logo nos defendemos, aterrorizados.
(A insustentável leveza do ser - Milan Kundera)

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