26 março, 2006

Pairando no ar

Tão tranquila, tão serena. Leve, light, plena.

Como se todo o meu corpo estivesse dormente, como se eu visse tudo acontecer à minha volta em câmera lenta, como se algo, surpreendente e misteriosamente tivesse clareado - na medida exata (porque a cegueira é causada tanto pelo excesso de luz quanto pela sua falta) - o caminho que eu percorro - mesmo ainda não sabendo que caminho é esse.

E esse leve torpor, inconsciente, inconsistente, mesmo que seja passageiro, me acalma. Porque olho tudo à minha volta com mais calma, sem pressa, sem ansiedade. Com a tranqüilidade e a serenidade de alguém de 90 anos, mas com o vigor e o pique de alguém de 20.

Porque há muito a ser feito, a ser descoberto. Muito a melhorar, a ajudar. Mas, pelo menos por hoje, por agora, não tenho pressa, nem preocupação. Nem mesmo pra saber até quando essa leveza vai ficar, nem pra saber quando o peso vai me puxar.

Porque agora eu estou assim, leve leve leve. Deixando que algo me leve. Uma pluminha, ao sabor do vento, da ocasião, dos acontecimentos. Então agora, neste exato momento, só desejo: que me leve, que me leve, que me leve... aonde quer que seja, pra onde for, que me leve. Entorpecida, leve, plena. Pluma.


[sorriso] [;)]


Lendo: Chega de saudade - A história e as histórias da Bossa Nova, de Ruy Castro